quinta-feira, 1 de setembro de 2011

BRASILIA, 50 ANOS


BRASILIA 50 ANOS
O nome da capital foi definido na Constituição de 1823, mas o projeto ficou esperando na gaveta do Império. Somente dois anos depois de proclamada a República, o marechal Floriano Peixoto delegou ao astrônomo belga Luís Cruls, chefe do Observatório Nacional, a missão de mapear a área onde seria criado um novo Distrito Federal. Cruls reuniu uma equipe com os melhores técnicos da geração dele. Em 9 de junho de 1892 partiram de trem do Rio de Janeiro levando 206 caixas de equipamentos. Seguiram até Uberaba, no Triângulo Mineiro, onde se embrenharam nas terras quase desconhecidas do Planalto Central no lombo de mais de 100 mulas.
O Quadrilátero Cruls tem 160km de extensão por 90km de lado, muito maior que o quadrilátero de Juscelino Kubitschek. A área onde a capital foi construída fica bem no centro do losango e foi escolhida porque está próxima de um divisor de águas. Em 2003 um grupo de cientistas fez o trajeto da expedição Cruls e confirmou a qualidade técnica da missão Cruls e a importância vital para a construção de Brasília. Com o mesmo rigor científico, a expedição Cruls levou também cultura e informação a cidades como Pirinópolis. Mas foi em Jataí, no oeste de Goiás, que o projeto de construir Brasília começou a sair do papel, 60 anos depois. Em abril de 1955, Juscelino Kubitschek foi a Jataí dar início à campanha presidencial e plantar a semente da nova capital.
Uma área gigantesca do cerrado, um clima seco, desconhecido. Era lá, no coração do Brasil, que seria erguida a capital federal. O sonho de Juscelino Kubitschek se transformava em um sonho de milhares de pessoas e um verdadeiro exército migrou de várias regiões do Brasil.
O cerrado, que se transformou em um enorme canteiro de obras, atraiu gente humilde que atravessou o país em busca de emprego.

Em 1958, um jovem que nunca tinha deixado a cidade de onde morava, se juntava a uma multidão de operários. Ele trabalhava até 12 horas e muitas vezes também à noite para idealizar o sonho de JK.

Brasília foi erguida em 43 meses e 60 mil pessoas fizeram parte desse sonho que foi criticado por muita gente, mas que cumpria o que estava escrito na Constituição Federal. A capital do país deveria ser construída no interior.
O traçado de Brasília nasceu de uma cruz, como nasceram as grandes cidades da América católica. Ganhou forma quando se transformou em um triângulo, símbolo do equilíbrio e dele saiu um arco que expandiu as asas com a super quadra da nova capital, projetada pelo urbanista Lucio Costa.
A nova capital do país já estava sendo loteada e vendida 33 anos antes de Brasília ser construída. Uma planta de 1927 é de um loteamento em uma cidade batizada como Planópolis, que os vendedores prometiam ser a capital do país, mas os terrenos só existiam no papel.

Foi com Juscelino Kubitschek que desenhar a nova capital virou moda. Quando o presidente JK decidiu mudar o endereço do poder, do Palácio do Catete no Rio de Janeiro para a nova capital no Planalto Central, Brasília começou a se materializar nas pranchetas e o governo lançou o concurso público para escolher o melhor projeto. O desafio era construir uma nova capital, diferente de todas as cidades que existiam no mundo.

Concurso
Foram 26 projetos disputando o concurso que contou com um júri internacional. O projeto mais futurista e polêmico era do arquiteto Rino Levi, que ficou em terceiro lugar. Muitos duvidavam que fosse possível construir aquela cidade, que parecia obra de ficção-científica. Os elevadores seriam o principal meio de transporte na Brasília vertical de Rino Levi. Os moradores ocupariam torres gigantescas com 300 metros de altura, quase do tamanho da Torre Eiffel. Nos andares intermediários, lojas e serviços.
Uma Brasília dividida em células que poderiam dobrar com o crescimento da capital, ideias inspiradas nas tribos africanas. No centro de cada uma delas, ministérios e em volta, repartições, casas e parques. O projeto dos irmãos Roberto dividiu o terceiro lugar e já previa ciclovia e metrô para Brasília.
O resultado final do concurso foi polêmico. Houve renúncia de um dos jurados e acusação de que desde o início o concurso teria feito sob medida para a vitória do arquiteto Lucio Costa, amigo de Oscar Niemeyer.

O vencedor
A Brasília de Lucio começou a nascer em uma viagem de navio, quando ele voltava dos Estados Unidos. O júri foi seduzido pelos desenhos e pela ideia sintética. Lucio não tinha escritório, trabalhava sozinho e entregou o projeto em seis cartões, misturando croquis e textos. Mas Brasília já estava toda lá.
Além do prestígio, a vitória no concurso rendeu também um prêmio em dinheiro a Lucio Costa. Na época, 1 milhão de cruzeiros, o equivalente hoje a R$360 mil, um dinheiro de que Lucio Costa pouco aproveitou, por descuido do urbanista e por causa de um dos efeitos colaterais da construção de Brasília: o aumento da inflação.
As curvas ganharam o mundo nas mãos do homem que aceitou o desafio de erguer uma cidade no meio do nada. Oscar Niemeyer desprezou o rebuscado e preferiu a linguagem simples e genial da estrutura. Apresentou ao mundo o concreto armado com poesia.

Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares Filho, carioca da Zona Sul, nascido em 15 de dezembro de 1907, criado no Bairro das Laranjeiras, formou-se em arquitetura na Escola de Belas Artes do Rio em 1934. Quando o projeto do amigo Lucio Costa foi escolhido para o plano piloto de Brasília, Oscar Niemeyer decidiu enfrentar a poeira do Planalto Central e desenhar as construções que mostram a força da capital com delicadeza.

Belezas de concreto
Na Praça dos Três Poderes, as edificações monumentais assombram pela beleza das colunas que pousam no solo e tocam o céu. Encantam os arquitetos mais jovens que cresceram inspirados no mito que é uma lição de estilo e uma lição de vida.
De 1957 a 1960, as obras de Niemeyer se tornaram ícones da arquitetura no mundo. No meio do cerrado, surgiram o Côncavo e Convexo do Congresso Nacional. Os anéis de aço garantiram a curva certa para a Cúpula Invertida. Uma construção nada simétrica e totalmente harmônica.
Brasília foi construída com a velocidade de um mandato. Foram poucos meses para desenhar o Itamaraty, sede da diplomacia do Brasil, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal. Um dos projetos mais marcantes da carreira da capital federal é justamente um símbolo religioso criado por um arquiteto ateu convicto: a Catedral de Brasília. Feita em uma única peça, 16 gomos iguais que se fecham formando uma coroa.
Doutor Oscar, como é carinhosamente chamado, não gosta de falar do passado. Aos 102 anos, olha para a frente e planeja o futuro.
Para mais informações acesse: Jornal da band
Reportagem exibida pelo Jornal da Band, acessada em 17 de abril de 2010. Reportagem do Jornal da Band

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